Marialva Barbosa e Osvando J. Morais (orgs.)

Comunicação em tempo de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades

Com açúcar e com afeto

Fiz seu doce predileto…
Chico Buarque
 
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil…
Olavo Bilac – Hino à Bandeira
 
As afinidades eletivas.
Goethe
 
Eis aqui em suas mãos o livro da INTERCOM-2013, organizado pelos professores Marialva Barbosa e Osvando J. de Morais, ambos membros de sua diretoria nacional.   
 
Já por tradição, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a nossa INTERCOM, lança anualmente em seu Congresso Nacional, este ano de 2013 em Manaus do Amazonas – em plena Amazônia, um livro mais que especial sobre as atividades e apresentações de resultados de pesquisa dos pares congressistas. Nele se publica ensaios de pesquisadores eminentes versando sobre o tema do congresso escolhido na sua edição anterior e que dá título ao livro –  Comunicação em tempo de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades.  Escolha temática de premente atualidade, e de relevância maior seria impossível em função do que temos visto cotidianamente e continuamos a ver: a explosão de um novo meio de comunicação, a INTERNET, consolidando-se como o medium supremo no que tange ao nunca antes imaginado poder de movimentação de massa da história da Comunicação.
 
Os ‘efeitos dos media’ sobre o indivíduo exposto aos meios de comunicação, notadamente àqueles voltados aos grandes públicos, às massas, transformam-se ao longo do tempo, entre os pesquisadores da área da Comunicação, em matéria de diálogo, controvérsias, acordos por vezes escusos entre analista e medium, porém sem solução.  
 
Observa-se que cada um assume postura que melhor lhe apraz frente ao problema, independente de uma Ética maior.
 
Estribamo-nos em Teilhard de  Chardin que afirma ser o Homem um ‘fenômeno’ dentre a diversidade dos seres vivos para concluir que a Comunicação seria um fenômeno do Humano quando se verifica o impulso congênito que a todos nos lança em direção ao Outro.   Sobre essa necessidade de vida vivida em comum que às vezes mascaramos ou tentamos dissimular vale o recente dizer de Todorov.   Vale também dizer que a INTERCOM saiu oportunamente à frente quando propôs o tema das redes sociais alojadas na Internet e seus efeitos sobre o partícipe ou consumidor quanto às alterações possíveis em seus afetos, emoções e subjetividades.   Neste livro, em sua primeira parte, estão reunidas as palavras que foram recolhidas nas conferências de abertura de seus profícuos congressos regionais. E a segunda parte nos remete ao grande evento promovido pela INTERCOM em parceria com a FAPESP sobre as comemorações dos 50 anos de Ciências da Comunicação no Brasil, tendo à frente o próprio e incansável José Marques de Melo junto aos professores Carlos Eduardo Lins da Silva e Osvando José de Morais. 
 
Como na montagem alternada das tramas de duas cidades do romance de Dickens podemos dizer:  enquanto isso…pesquisadores da Universidade de Michigan – UM   desenvolviam pesquisa idêntica sobre os efeitos das redes sociais no sentimento de bem-estar subjetivo do utente e publicam os seus resultados em 14 de agosto, portanto às vésperas de abertura do congresso nacional da INTERCOM.
 
As relações humanas para serem concretizadas dependem e se metamorfoseiam no próprio conceito de comunicação que a filosofia grega de um Empédocles já afirmava estar contido nos impulsos de phylia e neikós/amor e ódio, geradores de aproximações e afastamentos entre as partes dos elementos constituintes da matéria sensível.   Aristófanes também tenta explicar a eterna busca da parte faltante do ser incompleto que somos.   Também a Física Clássica tratou semelhantemente a explicação de atitudes diferenciadas de atração/repulsão eleitas pelos átomos quando observados na constituição dos corpos materiais. No século XII, na origem do Romance, a Literatura recorre a um filtro mágico para unir Tristão e Isolda.  Na virada do século XVIII para o XIX, Goethe retorna, no início do cientificismo, à ideia físico-química da explicação do gostar, ou seja, da aparentemente gratuita empatia ou simpatia ou afeição ou amor entre dois seres humanos – como condição humana agora a dispensar causas materiais como filtros mágicos e/ou outros artifícios ou artimanhas na eleição de suas afinidades. E, no máximo do Romantismo, por volta de 1850, a escritora inglesa Emily Brontë coloca seus amantes – Catherine Earnshaw e Heathcliff – perdidos em seu amour fou e às voltas com necessidades outras a satisfazer, notadamente questões de classe e cultura e economia, independente de magia. Afeição ou Amor ou Paixão que não se explica! Sente-se apenas e dispensa-se a Palavra.    
 
As chamadas redes sociais da Internet e o barulho que neste mesmo momento estão a fazer, e mais do que isso: pretender substituir as relações humanas em tudo que o conceito de humano cobre por meras conexões que os velhos meios faziam e a contento (cartas, cursos à distância de madureza, telegramas, rádio, papos telefonados recheados de abobrinhas triviais), por um lado, e por outro, a efeméride dos 50 anos de Ciências da Comunicação no Brasil  desfilam ante os olhos do leitor deste livro a convidar à reflexão.
 
Por tudo isso é que afirmamos ser este um livro que exige urgência em ser lido pelos pesquisadores brasileiros das Ciências da Comunicação.
 
Paulo B. C. Schettino   –   UFRN/ASL
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Academia Sorocabana de Letras